domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ou não.

Eu acho que deveria escrever um livro. Nada de histórias. Poesias ou prosas muito menos. Não que não faça meu tipo de leitura. É exatamente o caso contrário: Gosto tanto e já vi tanto que não acho que haja muito mais para ser dito. De qualquer forma, torço para que discordem de mim e escrevam muito ainda, para que eu possa sustentar minha compulsão. Isso mesmo, compulsão. Não que eu não goste disso… É só que eu não saboreio os livros. Eu os disseco; Extraio tudo que posso o mais rápido possível pra poder começar outro e repetir o ritual.

Mas, o que eu estava falando mesmo? Ah, sim, que eu deveria escrever um livro. Um em que eu colocasse todas as minhas teorias e conclusões sobre as coisas do meu dia-a-dia. Eu sou virginiana, muito observadora e gosto de filosofia, o que sempre resulta em, bem, não posso dizer textos porque nunca ou quase nunca anoto, mas sim que resulta em reflexões estupidamente detalhadas. Então, mesmo com a pouca qualidade da minha escrita, eu teria bastante coisa pra encher linguiça. Seria algo parecido com um diário, o que eu sempre quis ter e nunca tive realmente, mas de um velho dramaturgo de quem foi tirado quase tudo e só lhe restou pensar, divagar, voltar ao pensamento e por fim, escrever.

Seria, portanto, algo bastante esquisito, pra falar o mínimo. Consegue imaginar uma adolescente no auge de sua aborrecência dando uma de analista e examinando cada cena, cada ato, cada sentimento mostrado, incluindo seus próprios? Parece loucura e, se eu não fosse eu mesma, já estaria preocupada, mas posso garantir que essa coisa de pensar-demais-sobre me traz benefícios algumas vezes. Por exemplo, eu conheço as pessoas que estão por perto mais do que elas imaginam e também costumo ter bastante confiança nos meus julgamentos, opiniões e achismos. Vai ver por isso meus pais me acham madura o bastante pra tomar minhas decisões e eu tenha tanta liberdade… Aliás, é engraçado que eu tenha tanta liberdade e não me “aproveite” enquanto tem gente se rebelando pela falta dela e, exatamente por isso, acabe ainda mais distante.

Mas vamos voltar ao fato de eu ter muitas reflexões ao invés de falar de algumas delas.

Como toda garota, boa ou não, tanto faz, também tenho meus pensamentos de faz-de-conta. E tá aí uma coisa que acrescentaria certa interessância ao meu diário… É… Quis dizer livro… Ao meu livro: Um pouco do meu conto de fadas contemporâneo. Nele, meu faz-de-conta entraria interrompendo os assuntos chatos e divagações entediantes, que é o que acontece realmente. O mais legal é que cada um interpretaria de um jeito e a minha verdade permaneceria visível só pra mim. Só não falo do cara porque eu prefiro essa parte bastante real.

Se eu acabasse por escrever um livro de verdade, eu pediria aos meus amigos para não lerem nem sequer uma página. Algumas pessoas acabariam percebendo que nem sempre eu dou alguma atenção ao que elas estão falando, que eu só percebo a boca se mexendo e fico ali por pura consideração até que elas terminem e eu diga algo que feche o assunto.

Mas eu jamais escreveria um livro mostrando como eu penso, o que eu penso, como me perco no meio das minhas próprias reflexões e, se Deus existe, Ele sabe e não faz mal falar, como consigo me perder e entrar num faz-de-conta até no meio de uma oração. Eu já faço da minha vida um livro aberto. Com algumas tarjas de censura, é verdade. Mas todo mundo precisa de um aconchego, e meu paraíso perdido é dentro de mim. Eu deveria escrever esse livro e deixar fechado. Finalmente eu teria meu querido diário.