terça-feira, 26 de março de 2013

Quando o ócio não é produtivo, é esclarecedor.

  Já é noite, mas o dia foi longo. O sol, que sempre nasce na minha janela e ilumina todo meu quarto, acordou-me antes do despertar do relógio. Estava claro demais para voltar a dormir e cedo demais pra fazer qualquer outra coisa. Continuei deitada esperando que meu corpo e mente reagissem a luz do dia, na esperança de que algum deles me dissesse "ei, preguiçosa, hora de levantar!", como fazia minha mãe quando me acordava nos dias de escola. Nenhum dos dois me deixou saber se já estava na hora ou não e, sendo bastante sincera, perdi a noção de tempo porque minha cabeça estava vazia. Cá entre nós, às vezes uso a quantidade de coisas idiotas que passam pela minha cabeça como marcador de tempo.


  Num estado de completa inércia mental e corporal, resolvi olhar a hora que marcava o relógio. Eram sete horas e dezoito minutos. Assim, escritos assim mesmo pra vocês perceberem o quanto esse tempo passou arrastado. Depois de tanto me enroscar e aconchegar nos lençóis esperando o tempo passar, ainda eram sete horas e dezoito minutos.

  Levantei da cama levando as cobertas comigo pra usá-las como mantas e fui tomar café da manhã. Pra combinar com o ócio do momento, comi pão com pouca-manteiga e tomei uma xícara de café-com-leite-com-uma-colher-de-açúcar bem quentinho. Sempre fico sozinha em casa pela manhã e prefiro ficar no meu quarto porque quando escuto algum barulho, é mais fácil tomar conta de uma porta do que de três: da sala, da cozinha e da área de serviço. É sempre uma "aventura" ficar sozinha em casa - entre muitas aspas, claro - e tem algo de muito libertador nisso também. Eu gosto.

  Dei um tempo pro café da manhã assentar no estômago e fui fazer ioga, uma "reverência ao sol" pra retribuir o bom dia que ele veio me desejar. Foi horrível! Meu corpo doía inteiro porque na última festa que eu fui até tombo levei, mas no final das contas enfrentar isso valeu a pena, já que agora consigo sentar numa cadeira sem dizer "aaaaai!". Fui tomar banho porque não gosto de sair de casa com o cabelo molhado e gosto que ele seque ao natural. O relógio despertou logo que entrei no banho, mas ignorei e deixei que tocasse. Demorei quase duas horas no chuveiro. Ainda está no meu celular o aviso de alarme perdido. A partir daí o tempo correu bem rápido.

  Me vesti ao som de Ramones, The Who, Joan Jett, Red Hot e Arctic colocando cada peça de roupa no ritmo das músicas. Meu pé prendeu no short e fiquei pulando num pé só tentando manter o equilíbrio. Fiz meu almoço, comi, fiz limonada com gengibre, bebi, escovei os dentes e, quando percebi, já estava na hora de sair de casa.


  Meu curso começava às 14h, mas tinha que sair antes de casa pra imprimir meu currículo, tirar xerox da identidade, passar no cartório e ir no colégio onde eu fiz o fundamental pra pedir meu histórico escolar. Esqueci dessa última parte e peguei-me na rua cedo demais pra chegar no curso e "sem nada pra fazer". Lembrei de uma papelaria onde vende umas coisas muito legais e fui pra lá esperar o tempo passar. A vendedora deve ter achado muito estranho eu ficar lá tanto tempo olhando especificamente pra ... nada e, por isso, veio puxar assunto comigo. Eu estava com uma apostila e o currículo nas mãos.


  "Procurando emprego de que?" ela perguntou. Eu ri da forma como isso soou louco. Eu, 17 anos, míseros 1,59m de altura que tornam impossível ter uma conversa com alguém sem que essa pessoa olhe pra baixo, procurando emprego. "É pra estágio" eu disse rindo. Engatamos em uma conversa sobre minha vida que me fazia rir da naturalidade com que ela dava opinião sobre o que eu devia fazer sem ao menos saber meu nome. 13:52h: Hora de ir pro pré-vestibular.

  De 14h às 17:30h eu ri no curso com meu professor de uma-matéria-que-eu-já-dei contando de um trote que ele deu nos alunos vestindo outro professor de padre e fazendo todo mundo rezar por uma hora e meia. Mas entre uma risada e um exercício, a moça da papelaria e a nossa conversa me voltava a cabeça. Eu estava bastante incomodada com alguma coisa e não conseguia descobrir o que era até que um amigo me disparou: "Quando você chegar em casa já vai ter uma resposta do estágio!"


  Aí eu entendi. Agora eu entendi tudo.

  Demorar pra levantar. Ócio. Tomar café da manhã com calma. Festas. Banhos demorados. Almoçar em casa. Fazer hora olhando vitrines. "Panfletar" currículo. 


  Nem me formei e já estou desempregada.

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