quinta-feira, 16 de maio de 2013

Eu não sei você, mas eu adoraria saber o gosto de umas palavras.


  Não me recordo da primeira vez que escutei falar sobre essa coisa de sinestesia. Tenho pra mim que foi numa das primeiras vezes em que joguei The Sims, quando resolvi reparar nas frases que apareciam na tela justificando a demora pra carregar o jogo. Lembro bem de uma que dizia que estavam "eliminando mágicos de araque" e, pelo tempo que isso demorava, eu imaginava que eram mágicos de araque muito bons, mas... porém... contudo... todavia... devo embaraçosamente dizer que a culpa era toda minha por tentar carregar esse jogo com todas suas oito expansões em um Windows 95.

  Pois bem. Sinestesia. Essa palavra me incomodou durante muito, muito tempo. Nunca gostei de coisas que eu não conseguia entender, então sempre que eu via essa palavra eu pensava em procurar seu significado, mas com todo aquele jogo de sedução que me mantinha horas a fio em frente ao computador, posso dizer que foi uma batalha épica com a minha memória até que eu conseguisse lembrar que, caramba!, já era hora de eu descobrir o que aquilo significava.

  O que eu achei dizia respeito a uma das figuras de linguagem que misturava percepções de sentidos diferentes, como quando Casimiro de Abreu disse que as falas sentidas que os olhos falavam, ele não queria, não podia e não devia contar. Ainda me impressiono com o poder que essa figura tem de dar vida aos textos. Eu gosto de pensar que é porque eu posso sentir a "frase sinesteta".

  Foi bastante tempo depois que eu descobri que sinestesia era também uma condição neurológica que permitia que as pessoas sentissem de verdade um cheiro adocicado ou que escutassem uma música azul. É uma condição tão ímpar que é difícil até assimilar a ideia. Acho que a palavra que eu procuro é transcendental.

  Imagine viver em um mundo em que você pudesse ver as cores das notas musicais, sentir o gosto dos aromas, a temperatura dos sabores ou até os sons dos cheiros. Imagine todas as suas vivencias cotidianas acrescidas de mais informação. Imagine escutar um som quando o semáforo mudar de vermelho pra verde, sentir o gosto do cheirinho de frango assado, a emoção que vem junto com o chocolate, descobrir a temperatura da pimenta ou observar a explosão de cores de uma música de bossa. Eu acho que seria uma aventura fazer qualquer coisa nova. Uma viagem. Um beijo. Ligar a TV. Amor.

  Eu acho que não perderíamos uma só lembrança.

  Eu acho que lembraria bem da primeira vez que escutei falar sobre essa coisa de sinestesia se eu tivesse algum quê de sinesteta. Tenho certeza que ela seria, ao menos, alguma coisa além de uma palavra. Não gosto de lembrar fatos com clareza e não das minhas percepções sensoriais. Não gosto de coisas que não consigo entender e não entendo nada de sensações e sentidos. Mas de uma coisa eu sei:

  Eu me entenderia melhor se eu conseguisse sentir o exato gosto dos "sim" e dos "não".

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