quinta-feira, 21 de junho de 2018

Waking Life. Waking Love.

- O que?
- Franze a testa sem entender.
- O que você tanto olha pra lá?
- Aquele casal. Dá pra ver que eles estão apaixonados. É fofo.
- É você ou a cerveja falando?
- Como assim?
- Sorri com deboche. Você tá vidrada, seus olhos brilhando olhando para um casal desconhecido, mas você rejeita relacionamentos e, sabe... amor.
- É diferente.
- Como?
- É que eles acreditam no relacionamento deles, sabe? 
- E você o que? Não acredita que exista alguém para você?
- Esse papo não combina com esse bar. Ri um sorriso torto, com o canto da boca.
- Cara, a cerveja tá aqui pra expandir nossa mente e ajudar a gente a entender a vida. Ri. Sem cerveja eu não vou conseguir acompanhar o raciocínio. Anda.
Respira profundamente, como se buscasse fôlego antes de começar a falar. tsc! tá. Direciona seus olhos pro copo à sua frente. Eu acredito no amor, sabe? Olha de volta pra pessoa à sua frente. Amor que ama "porque" e "apesar de". Acho que amor é construção. A gente constrói ao reconhecer as qualidades do outro, mas também os defeitos e aceita toda a complexidade. Não dá pra idealizar, pra projetar no outro nossas expectativas e esperar que ele nos atenda porque aí a gente não ama a pessoa, mas a imagem que criamos dessa pessoa. Acho que quando a gente ama, quer o melhor pro outro, quer que ele seja livre pra buscar aquilo que o faz feliz. Quer que ele fique se quiser ficar, não pra nossa felicidade exclusiva, só se isso o fizer feliz. Você entende? É mais altruísta. A gente tem que estar muito seguro pra isso, do contrário, vai se apoiar no sentimento do outro, tipo uma muleta emocional. Não é justo. Não é justo que a gente responsabilize alguém assim pelo nosso bem estar. Eu não quero fazer isso.
- Bufa. Caralho, cara, nunca tirei você por romântica. Ri. Mas, assim, não entendo porque você acha que vai fazer alguém de muleta. Você é bonita, cara, e inteligente. Uma ótima companhia pra cerveja, sempre de boa. Não to falando isso porque você é minha amiga não. Sei lá. Por que você precisaria de uma muleta, ta ligada?
- Lembra das aulas de sociologia, filosofia? Eu acho que as pessoas sempre são alguém em relação a outra pessoa. Tipo, a imagem que você tem de mim é baseada na interação que nós dois temos, que é diferente da interação que eu tive com joãozinho, manezinho, minha mãe ou com o ex. Ri. Cada pessoa é uma pessoa diferente dependendo pra quem você pergunta. Mas nossa autoimagem nossa mente cria com base em tudo que a gente já fez, deixou de fazer, quis, pensou, sentiu. É uma merda. 
- Pera. Pera. Você tá discordando dos elogios que fiz? Tipo, me dizendo que não concorda, que essa não é sua autoimagem, que não gosta de si mesma? Porque isso é doideira! 
- Não é bem isso. Eu to dizendo que eu to.... trabalhando nisso. 
- O que? Você tá lendo essas baboseiras de auto-ajuda? Mais cerveja?
Ri balançando a cabeça. Não! Pode completar.
- Então explica.
- Eu acho que sou boa em ter empatia com os outros, me colocar no lugar, não julgar. Eu acho que sou boa até em perdoar. Pode demorar um pouco, mas não gosto de guardar maus sentimentos de ninguém, sabe? Ninguém é completamente bom ou mal e eu fiz minhas pazes com isso. YinYang. Mas eu não sou tão boa quando eu preciso ter essa empatia comigo mesma. Eu sou mais dura em me criticar do que aos outros. Eu não me odeio. Não é isso. Eu sei sou boa em algumas coisas. Eu só não sei se me sinto... suficiente? Não sei se essa é a palavra. Eu quero ser melhor, a melhor versão de mim. To trabalhando nisso. Até lá, como é que eu faço pra acreditar que eu sou suficiente pra uma outra pessoa enquanto eu não sou pra mim? E como é que eu faço pra não depender dessa aprovação externa? Eu quero me aprovar. Do contrário, não sou capaz de viver esse amor altruísta que eu acredito porque eu vou precisar do outro comigo. Não querer, precisar. Não porque eu quero que ele seja livre pra ser feliz, sabe? Precisar dele comigo pra me fazer feliz. 
- Cara, você precisa de um homem.
- Machista!
- Não, foi mal, não foi isso que eu quis dizer. Eu já bebi muito, não to pensando direito. 
- Foi merda o que você falou.
- Eu sei, eu sei, desculpa, mas pera, me escuta. O que eu queria dizer é que, tipo, talvez seja bom a gente sentir amor, receber amor para conhecer o amor. Você tá me entendendo? Eu não sei falar bem dessas coisas, mas você disse que pra você o amor é construção, certo? Talvez você possa construir em conjunto, ta ligada? Se ver pelos olhos de outros. Sei lá, acho que vai ser muito difícil pra você conseguir amar a si mesma rejeitando o amor que podem te dar. Você tá se sabotando. Você merece amor, cara. Todo mundo merece. Sei lá, fiquei puto. Ri nervoso. Essas merdas de auto-ajuda não parecem tão ruins agora. Arruma um homem ou um psicólogo. Qualquer coisa que funcione pra sair dessa. Você precisa.
- Respira profundamente. Eu preciso é de mais um cerveja. Levanta o braço. GARÇOM!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Fé é uma questão do ser.

Eu tenho fé. Fé naquilo que não sei e no que ainda vou entender.
Tudo que é tangível, capaz de ser racionalizado ou grande o suficiente para ser palpável é pequeno demais.
Eu creio na força e poder do desconhecido: No "sobre-humano".

Talvez eu seja só insegura demais pra acreditar que somos obras de nós mesmos, artistas com recursos tão limitados;
ou seria eu demasiadamente vaidosa por achar que somos bons o suficiente pra ter algo maior ao nosso redor, olhando por nós?

É quase confortável pensar que esse delírio que é a vida é uma forma do Homem ser castigado por negar sua divindade e maltratar seu templo.
Como é que a gente pode se considerar tão pequeno?

Somos filhos de Gaia. Somos filhos de Deus. Mas, também, não somos filhos de nós mesmos?
Não nos criamos, modelamos, reinventamos?
Não somos nós quem damos início as coisas, que prosseguimos com elas, que determinamos seu fim?

Se somos donos de nós mesmos, se dentro de nós reside um universo único e particular, não somos também co-criadores de nossas vidas?
Deus não está morto. Deus está vivo em mim.

Eu tenho fé. Fé em algo maior que Eu.
Eu creio na força da minha própria divindade, naquilo que pode me ensinar o que há de mais profundo em mim.